Azeite de oliva: clima desafia, mas produção do RS mantém qualidade e busca expansão

OURO VERDE

Festa celebra o azeite em uma das cidades com maior destaque nacional no segmento

30/11/2024 07:02

Pensar em azeite de oliva no Brasil era uma realidade inimaginável há poucos anos. A cultura tem grande destaque e tradição em países como Espanha, Grécia e Itália, e encontrou no clima tropical bons resultados. Os primeiros cultivos de olivais no Rio Grande do Sul – hoje o maior estado produtor, responsável por cerca de 70% do total – datam da década de 1950.

O embaixador Batista Luzardo plantou em Uruguaiana, na Fronteira Oeste, 72 mil plantas, sendo este por um período o maior olival do Brasil. Na época, a Secretaria da Agricultura gaúcha examinou em laboratório a azeitona e o azeite produzidos, verificando que não eram inferiores aos italianos. A partir de então, a pasta passou a incentivar o plantio de olivas no estado.

Mas foi só em 2005 que o espaço de pesquisa foi ampliado. A Embrapa Clima Temperado implantou 25 unidades experimentais de observação; cada uma era composta por três árvores de 30 cultivares, totalizando 90 plantas. No projeto, também foi realizado o zoneamento climático para a cultura no Rio Grande do Sul, assim como a implantação de um banco de germoplasma com 56 cultivares definidas e dez acessos não definidos, além de identificar e monitorar as principais pragas e doenças que atacam a cultura.

Os olivais começaram a dar resultados. Nesses quase vinte anos de cultivo, novas áreas e regiões ganharam pomares. De acordo com a Radiografia da Agropecuária Gaúcha, atualmente são 6,2 mil hectares plantados, sendo metade já em produção. Na safra 23/24 foram produzidos 193,1 mil litros de azeite. A extração do azeite é feita em 25 lagares espalhados pelas regiões produtivas.

As maiores plantações estão nos municípios de Encruzilhada do Sul, Pinheiro Machado, Canguçu, Caçapava do Sul, São Sepé, Cachoeira do Sul, Santana do Livramento, Bagé, São Gabriel, Viamão e Sentinela do Sul. Desde 2019 uma lei estadual criou a “Rota das Oliveiras”, englobando 40 municípios, e busca fomentar e promover o cultivo dos olivais. Como entraves ainda estão o alto custo inicial do investimento e o tempo para começar a produzir, em média a partir do quinto ano.

Clima desafia safra

O recorde de produção de azeites gaúchos ocorreu no ciclo 2022/23, quando foram extraídos 580 mil litros. No ciclo passado, o estado teve redução de 67% na produção. A causa foi um ciclone que ocorreu em setembro, com elevadíssimos volumes de chuvas, afetando a floração.

Para 2024/25 há nova expectativa de baixa, em função das enchentes de maio e do clima chuvoso de setembro.

A produtora Rosane Coradini Abdala, de Caçapava do Sul (RS), destaca que é necessário mais investimento em pesquisa para buscar variedades mais adaptadas aos problemas climáticos do estado.

“No ano que vem já observamos que teremos safra baixa, aquém do que foram as anteriores. Já buscamos junto às entidades recursos para pesquisa para termos variedades mais adaptadas ao nosso clima. Em Portugal, por exemplo, são plantadas variedades de solo ácido, que é o nosso caso aqui. Também tem variedades que convivem melhor com umidade, o que é um problema nosso também”, ressalta.

Eliza Maliszewski

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